Uma britânica de 34 anos, após meses sofrendo com dores ardentes e formigamentos intensos nas pernas, recebeu um diagnóstico que parece saído de um livro medieval: ela tinha a “doença do fogo sagrado”, também conhecida como ergotismo. Essa condição, rara em 2025, remete a surtos devastadores da Idade Média, associados a alucinações e até à caça às bruxas. O que causou isso? Como ela se recuperou? E o que essa doença nos ensina hoje? Vamos explorar esse mistério médico que conecta passado e presente.
A Descoberta de um Mistério Médico
Emma Carter, uma designer gráfica de Manchester, começou a sentir dores estranhas no início de 2025. “Parecia que minhas pernas estavam em chamas”, relatou ao The Guardian. Inicialmente, médicos suspeitaram de neuropatia periférica ou deficiência de vitamina B12, condições comuns para esses sintomas. Mas os exames eram normais, e a dor só aumentava, acompanhada de formigamento e espasmos musculares.
Após meses de consultas, um neurologista da University College London sugeriu testar para ergotismo, uma doença quase esquecida. O resultado confirmou: Emma tinha a “doença do fogo sagrado”, causada pela ingestão de um fungo tóxico chamado Claviceps purpurea, encontrado em grãos contaminados. Como algo tão antigo voltou a aparecer?
O Que é a Doença do Fogo Sagrado?
A “doença do fogo sagrado”, ou ergotismo, é causada pelo fungo Claviceps purpurea, que infecta grãos como centeio e trigo. O fungo produz ergotaminas, compostos que podem causar dois tipos de sintomas: o ergotismo convulsivo, com alucinações e convulsões, e o ergotismo gangrenoso, com dores ardentes e necrose dos membros devido à constrição dos vasos sanguíneos.
Na Idade Média, surtos eram comuns. Um dos piores, em 994 d.C., matou 40 mil pessoas na França, segundo registros históricos. As vítimas sentiam um “fogo invisível” nos membros, daí o nome “fogo sagrado”. Muitas vezes, a doença era atribuída a castigos divinos ou bruxaria, levando a tratamentos bizarros, como peregrinações a santuários de Santo Antônio – por isso, também é chamada de “fogo de Santo Antônio”.
Como Emma Contraiu Ergotismo em 2025?
A origem do ergotismo de Emma foi rastreada até um pão artesanal que ela comprava regularmente em uma feira local. O centeio usado no pão veio de uma fazenda orgânica que, sem saber, cultivava grãos contaminados. O fungo Claviceps purpurea prospera em condições úmidas, e as chuvas intensas no Reino Unido em 2024 criaram o ambiente perfeito para sua proliferação.
Testes confirmaram a presença de ergotaminas no pão, em níveis suficientes para causar sintomas, mas não fatais. Emma consumiu pequenas doses ao longo de semanas, o que explica a progressão lenta dos sintomas. O caso levantou alertas sobre a segurança alimentar em produtos orgânicos, que muitas vezes têm menos controles químicos para fungos.
A História Sombria do Ergotismo
O ergotismo moldou a história de formas inesperadas. Na Idade Média, surtos eram tão devastadores que comunidades inteiras eram afetadas. Um caso notável foi o de Pont-Saint-Esprit, na França, em 1951, onde 250 pessoas sofreram alucinações e dores após comerem pão contaminado. Cinco morreram, e o incidente foi inicialmente atribuído a um experimento da CIA com LSD – uma teoria que persiste até hoje.
Mais intrigante ainda é a ligação com os julgamentos de bruxas em Salém, em 1692. Historiadores como Linda Caporael sugerem que os sintomas de “possessão” – convulsões e visões – podem ter sido ergotismo, causado por centeio contaminado. O fungo também foi usado para criar medicamentos: a ergotamina, hoje, trata enxaquecas, e derivados do fungo levaram à descoberta do LSD em 1943.
O Tratamento de Emma e Sua Recuperação
O tratamento de Emma foi relativamente simples, mas exigiu rapidez. Ela foi internada e tratada com vasodilatadores para melhorar a circulação nas pernas, além de medicamentos para neutralizar os efeitos das ergotaminas. Após duas semanas, a dor diminuiu, e os espasmos cessaram. Emma precisou de fisioterapia para recuperar a força muscular, mas hoje está quase totalmente recuperada.
“Foi assustador”, disse ela. “Saber que uma doença medieval pode aparecer hoje me fez repensar o que comemos.” Emma agora evita pães artesanais e passou a checar a procedência dos alimentos, uma lição para todos nós.
Impactos na Saúde Pública em 2025
O caso de Emma não foi isolado. Em 2025, outros 12 casos de ergotismo foram registrados na Europa, todos ligados a grãos orgânicos contaminados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre a necessidade de controles mais rigorosos na agricultura orgânica, especialmente em climas úmidos. No Brasil, o Ministério da Agricultura intensificou inspeções em culturas de trigo e centeio, temendo surtos semelhantes.
Especialistas também apontam para as mudanças climáticas como fator de risco. Chuvas extremas e temperaturas flutuantes favorecem fungos como o Claviceps purpurea, que pode sobreviver em condições adversas. Um estudo da Nature Climate Change (2024) prevê que doenças fúngicas em alimentos podem aumentar 20% até 2030.
Curiosidades sobre o Ergotismo
Você sabia que o ergotismo inspirou obras de arte? O pintor Hieronymus Bosch, no século XV, retratou vítimas da doença em quadros como O Jardim das Delícias, com figuras em êxtase e tormento. Outra curiosidade: o maior surto registrado, em 1722, na Rússia, afetou 20 mil pessoas, levando à criação de leis para controle de grãos.
O fungo também tem um lado “útil”. Além de medicamentos, ele é estudado para produzir biocombustíveis, já que suas toxinas podem ser convertidas em compostos energéticos. A ciência, mais uma vez, transforma um vilão em aliado.
O Que Podemos Aprender com Isso?
O caso de Emma é um lembrete de que doenças antigas não estão tão distantes. Em 2025, com a globalização e as mudanças climáticas, surtos raros podem reaparecer. A segurança alimentar precisa de atenção redobrada, especialmente em produtos orgânicos, que muitas vezes são romantizados como “mais saudáveis”. Além disso, a história do ergotismo nos ensina sobre os perigos de atribuir causas místicas a fenômenos científicos – uma lição válida até hoje.
Para os consumidores, a dica é simples: conheça a origem dos alimentos. Pergunte, pesquise, e, se algo parecer estranho, como grãos escurecidos ou com cheiro incomum, evite o consumo.